A verdadeira história de Rapunzel de 1637 por Basile

“Uma vez no porto, o marinheiro libertado de seus medos, esquece as tempestades de cem anos”.
Olá meu povo lindo! Voltei com novidades! Quem acompanha o blog, sabe que adoro as versões originais dos contos de fadas, por isso sempre pesquiso e vou atrás de saber um pouco mais dessas histórias, e hoje não será diferente, como podem ver, trago a verdadeira história de Rapunzel. Na verdade, esse nome "Rapunzel" é bem recente, existiram muitas versões com outros nomes, como na italiana e a francesa. Só para vocês terem uma noção, olhem a quantidade de versões que existem da história:
Como ficaria um pouco difícil eu falar sobre todas essas versões, falarei somente sobre essas duas que estão destacadas: "Persinette"(conto francês) e "Petrosinella" (conto italiano).

O primeiro vestígio da história, foi encontrado em 1637 (bem antigo não?) e foi escrito por Giambattista Basile, que escreveu em seu conto a história de Petrosinella, que traduzindo deriva de "Petrosine" que significa "salsa" (sim, parece sem sentido, mas já já vocês entenderão o por que desse nome).

Sessenta anos mais tarde, em 1697 , Charlotte Rose de Caumont de la Force, uma francesa aristocrata, publicou sua própria versão do conto chamada Persinette, que deriva de Persillé e que também significa "salsa".

Persinette foi traduzido do alemão diversas vezes, sendo que em uma das versões, a de J. C. F. Schulz, ocorreu a troca do nome Persinette para Rapunzel, considerado assim o texto-base sobre o qual os Grimm escreveram sua versão. Rapunzel significa "alface de cordeiro", um tipo de alface com folhas miúdas.

Não achei absolutamente nada sobre esses contos em sites em português, por isso estou trazendo informações de vários sites em inglês diferentes. Vou contar aqui para vocês, essa que acredita-se ser a primeira versão do conto, a de Basile, e não estará assim tão fiel ao conto original, pois como eu disse, está em inglês e irei traduzi-lo para colocar aqui, espero que vocês entendam! hahaha

Petrosinella - Giambattista Basile, 1637

Era uma vez um tempo em que uma mulher chamada Pascadozzia, que estava começando a formar sua família, estava de pé à olhar por uma janela que tinha vista para o jardim de uma ogra. Foi então que ela viu um punhado de salsa colhida no jardim, e incapaz de se conter, ela esperou a ogra sair e roubou um punhado de suas hortaliças, mas quando a ogra chegou em sua casa para preparar um guisado, se deu conta de que estava faltando salsa, então exclamou "Vou pegar esse malandro de dedos longos e fazê-lo se arrepender! Ensina-lo que cada um deve comer de seu próprio prato e não se meter com o prato dos outros!".

A pobre mulher passou mais algumas vezes pelo jardim da ogra, e em uma dessas ocasiões a velha a reconheceu e com uma raiva furiosa exclamou "E por fim eu te peguei ladrão desonesto! Farei você pagar por isso! Como pode vir dessa forma imprudente roubar minhas plantas?" Pobre Pascadozzia! Morrendo de medo, ela começou a dar desculpas para o que tinha feito, dizendo que era a gula e a fome, que o diabo a havia tentado a fazer aquilo e que ficou com medo de que se não comesse a salsa, o filho que estava esperando poderia nascer com uma colheita de salsa em sua face. "Eu não serei pega com essa conversa fiada! O único jeito de se livrar do que você fez, é me entregando essa criança, sendo ela menino ou menina! Só assim não levarei adiante o roubo que tu cometeste!". Pobre Pascadozzia! A fim de escapar do perigo que se encontrava, prometeu que entregaria a criança à ogra. Mas quando o parto chegou, Pascadozzia deu à luz à uma menina, tão linda que ela era uma alegria para se olhar, e por ter um raminho de salsa em seu seio, foi nomeada Petrosinella.

E a menina foi crescendo dia após dia, até completar sete anos de idade. Sua mãe então a enviou para a escola, e cada vez que ela caminhava ao longo da rua, encontrava a ogra que toda vez lhe falava a mesma coisa, "Diga a sua mãe para lembrar-se da promessa". E ela repetiu essa mensagem tantas vezes, que a pobre mãe, não tendo mais paciência para ouvir aquela mulher lhe dizendo para lembra-se da promessa, disse um dia para Petrosinella "Quando você encontrar a velha, diga-lhe para fazer o que é preciso".

Quando Petrosinella, inocentemente encontrou a velha uma outra vez, disse-lhe exatamente o que a mãe havia pedido. A ogra então, agarrando-a pelos cabelos, levou-a em direção à um bosque que nunca sequer viu a luz do sol. Então ela colocou a menina em uma torre que não tinha nem porta nem escada, somente uma pequena janela, por onde a velha subia e descia usando os longos cabelos de Petrosinella.

Um dia, quando a ogra havia deixado a torre, Petrosinella colocou a cabeça para fora da janela e soltou seus longos cabelos ao sol. O filho de um rei que estava passando por aquelas bandas, viu aqueles lindos cabelos dourados e no meio daquela cascata de cabelos, o rosto mais doce que tinha o poder de encantar qualquer coração. O príncipe então caiu desesperadamente apaixonado. Começaram a conversar através de pequenos gestos, como um piscar de olhos ou um beijo enviado entre as mãos. Todos os dias eles se encontravam e na despedida faziam promessas um ao outro.

Após um tempo a jovem moça e o jovem príncipe ficaram tão íntimos, que eles fizeram um combinado que seria realizado durante a noite. Então, quando a hora marcada chegou, o príncipe foi até a torre, onde Petrosinella deixou cair seus longos cabelos. O príncipe agarrou-o com ambas as mãos e começou a subir até rastejar pela pequena janela até a câmara.

Na manhã seguinte, antes do nascer do sol, o príncipe desceu pela mesma escada dourada para seguir seu caminho para casa. E essa visita foi sendo repetida inúmeras vezes, até algumas fofocas chegarem aos ouvidos da velha ogra, dizendo que a jovem no alto da torre se encontrava com um homem no meio da noite, e que achavam que eles estavam combinando para fugirem juntos. A velha ficava agradecida pelas notícias, mas sabia que Petrosinella não poderia fugir, pois havia um feitiço sobre ela, de modo que a menos que ela tenha em mãos as três nozes que se encontravam na cozinha, seria perda de tempo tentar fugir.

Enquanto a cidade inteira fofocava à seu respeito, Petrosinella ficava bem atenta à toda e qualquer informação que pudesse obter do alto de sua torre. Então uma noite, o príncipe veio como de costume, e a jovem pediu à ele para que pegasse as nozes, já sabendo através das fofocas que escutou, que elas faziam parte do feitiço lançado pela velha, e que ela não poderia fugir sem pega-las. Então a moça fez uma corda-escada e ambos desceram para o chão e saíram correndo em direção à cidade.

Mas logo as pessoas começaram a notar o casal fugitivo, e as conversas ficaram tão altas, que logo todos estavam gritando, e a ogra acabou acordando, e vendo que Petrosinella havia fugido, partiu a correr atrás dos amantes, que ao ver que a velha estava correndo muito rápido, começaram a pensar que a batalha estava perdida.

Mas a jovem, relembrando das nozes, joga uma delas no chão, e eis! Instantaneamente um enorme e furioso cachorro surge, e com mandíbulas abertas e latido alto, voou para a ogra como se para engoli-la com uma só bocada. Mas a velha, que era mas astuta e maldosa que o diabo, colocou a mão no bolso e tirando um pedaço de pão e deu-o ao cão, que o fez abaixar sua cauda e acalmar sua fúria.

Então ela virou-se para correr atrás dos fugitivos mais uma vez, mas Petrosinella vendo-a, jogou a outra noz no chão, e eis! Um grande leão aparece, e atacando a terra com sua cauda, sacudindo a juba e abrindo largamente suas mandíbulas, estava se preparando para fazer o abate da ogra, mas ela voltou-se rapidamente para trás e retirou a pele de um burro que estava pastando no meio de um prado, e correu para o leão, que, imaginando que fosse um burro de verdade, ficou tão assustado que saiu correndo o mais rápido que podia.

A ogra tendo escapado mais uma vez, continuou sua perseguição. Ouvindo o barulho de seus saltos e vendo a nuvem de poeira que levantou-se para o céu, Petrosinella percebeu que a velha estava quase os alcançando novamente, mas notou que a ogra, com medo do leão voltar a persegui-la, não retirou a pele do burro, e quando a jovem lançou a terceira noz, brotou um lobo, que sem dar tempo para velha jogar qualquer novo truque, devorou-a tal como ela era, na forma de um asno.

Assim, os amantes, sendo agora libertados do perigo, continuaram seu caminho silenciosamente até o reino do príncipe, onde, com o consentimento de seu pai, ele tomou Petrosinella como esposa; e assim, depois de todas essas tempestades do destino, eles experimentaram a verdade, que "uma vez no porto, o marinheiro liberto de seus medos, esquece as tempestades de cem anos".

24 comentários. Clique aqui para comentar também.:

Kênia Cândido disse... [Responder comentário]

Oi Patrícia.

Eu adorei! Foi uma leitura totalmente diferente do que eu imaginava. A Rapunzel nuca mais será a mesma na minha mente.

Bjos

http://historiasexistemparaseremcontadas.blogspot.com.br/

Angela Silva disse... [Responder comentário]

Gostei muito, mais esses nomes são muiito bizarros hehe

agarotasecreta14.blogspot.com.br

RUDYNALVA disse... [Responder comentário]

Patrícia!
Gosto demais dos contos de fadas e também das releituras, porque cada autor dá sua impressão sobre o original.
Muito interessante a pesquisa que fez sobre a Rapunzel e sobre as duas óticas que mostrou.

Agradeço a visita feita ao blog e volte quando desejar, obrigada!
“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra.”(Bob Marley)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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Tony Lucas disse... [Responder comentário]

Oi, Patrícia! Tudo bem? Eu também adoro conhecer as versões originais dos contos de fadas que tanto conhecemos. Gostei da história da Rapunzel e achei ela bem diferente da versão que conhecemos. Bem louco essa história das nozes que viram bichos, né? Adorei o post! :)

Abraço

http://tonylucasblog.blogspot.com.br/

Meus desabafos :) disse... [Responder comentário]

Eu acho incrível como os irmãos Grimm fizeram tudo isso,sabe?Eu quero muito comprar o livro deles um dia e mergulhar nessas histórias.É tão bom saber a verdade né? :)


Beeijos..post incrível ^^
http://carolhermanas.blogspot.com.br/

Patricia disse... [Responder comentário]

@RUDYNALVAObrigada Rudynalva, fico feliz que tenha gostado. Também apresento a versão de outros contos de fadas aqui no blog, é só ir na aba "contos" lá no menu que tem mais!
Beijo!

Inês Gabriela A. disse... [Responder comentário]

Olá,
Nossa, que história maluca, acho que prefiro a versão original, rsrs. Mas sempre gosto de ler as histórias originais.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

Minhas Escrituras disse... [Responder comentário]

Oi Pati, tudo bem??
Caraca.... que da hora essa versão... dá para notar a adaptação feita pelos contos atuais, mas sinceramente eu gostei muito desse, preferia que fosse algo de terror kkkkk, mas adorei essa versão... ela é mais real, mesmo com o feitiço simples da ogra... jamais imaginei que teria sido dessa forma que a Rapunzel foi presa na torre e somente depois que já tinha uns 7 anos de idade. Você deve ter feito uma pesquisa muito intensa para descobrir essa raridade, parabéns... xero!!

http://minhasescriturasdih.blogspot.com.br/

Daniela Silva disse... [Responder comentário]

Oi Patricia!
Também gosto muito de tudo que envolve contos de fadas, e adorei saber mais sobre estas versões, achei bem legais os nomes. Muito interessante o post! :)
beijos ♥
nuclear--story.blogspot.com | Participe do sorteio

Joice Ol. disse... [Responder comentário]

Que de mais, é muito diferente do que eu já vi ou imaginava. Muito bom;

Beijos
http://intoxicadosporlivros.blogspot.com.br/

Unknown disse... [Responder comentário]

Oi Patrícia.

Adorei saber mais sobre a história original da Rapunzel. Na verdade não achei muita diferença no sentido, só os nomes e alguns dados é que mudam, demais é a mesma coisa! :D
Bjoks da Gica.

umaleitoraaquariana.blogspot.com

Pedro disse... [Responder comentário]

Olá Patrícia, como vai?

Eu gosto de aprofundar meus conhecimentos (principalmente em literatura/história) lendo post assim como o seu, porque eu confesso que eu sou uma pessoa que gosta de compartilhar com outros :) Mas confesso a você que achei esses nomes muito grotesco, mas enfim!
Abraços!

www.olivroemquehabito.blogspot.com.br

Cecilia disse... [Responder comentário]

Adoro as versões originais dos contos de fada, apesar da vibe mais dark hahaha

http://gotasdecaffe.blogspot.com.br
https://www.facebook.com/GotasdeCafeblog
Curte a Fanpage? xxx

Unknown disse... [Responder comentário]

Uou!!!!
Uma versão bem diferente!!!
Amei, já tinha lido a versão original da chapeuzinho vermelho, mais parecia um conto de terror.
Agora estou em novo endereço: wtsnext.com

Unknown disse... [Responder comentário]

Que legal essa versão! Eu a desconhecia e foi bem interessante lê-la.
Já li algumas verdadeiras histórias das princesas, mas que eram muito aterrorizantes, hehe. Queria ler um livro sobre histórias originais, na verdade.

Beijos,
alanahomrich.blogspot.com.br

Marcelo Monthesi disse... [Responder comentário]

Oi Patrícia, tudo bem? Adorei essa versão que realmente não conhecia. Sou um pesquisador assíduo sobre os contos populares e nas minhas adaptações teatrais procuro contar sempre as verdadeiras histórias seja dos irmãos Grimm, de Perrault ou outros. Sempre conservando os arquétipos e simbologia de cada conto. Mas é sempre bom saber mais e mais. Obrigado. Se quiser conhecer um pouco do meu trabalho www.iriarteciateatral.eev.com.br

Anna Lirim disse... [Responder comentário]

Oi, Patrícia, tudo bem?
Estou conhecendo o blog agora, mas adorei essa postagem! Sempre gostei de contos de fada e ando acompanhando um pouco mais ultimamente por causa de um projeto literário meu.
Gostei dessa versão de Rapunzel (super bem traduzida, aliás), só conhecia a versão dos Grimm antes. Bom, e a da Disney também, mas essa é totalmente diferente, hehe.
Beijos,

EscrevendoAsas.com

Unknown disse... [Responder comentário]

ESSA VERSÃO NÃO FORAM ELES. BJ

Unknown disse... [Responder comentário]

Oi, Pati, tudo bem?
Eu conheço uma versão que tem uma canção de ninar que a mãe da Rapunzel canta pra ela e depois a Rapunzel canta pro gêmeos, li na escola era linda a cantiga, cantei bastante tempo pra minha irmãzinha, mas não consigo lembrar de nada da música, acredita? Será que você chegou a ver essa versão?

Unknown disse... [Responder comentário]

meu essa historia e uma merda a verdadeira historia da RAPUNZEL e que o principe morre com Os Feitiços da bruxa e a rapunzel vai ate a bruxa e confronta e luta contra ela ai a bruxa fala a verdade para RAPUNZEL, ai ela bruxa temta escapar ai a RAPUNZEL pega fica atraz da bruxa e depois longe e ataca com seus poderes com cabelo, ai elas ficam lutando...

Unknown disse... [Responder comentário]

meu essa historia e uma merda a verdadeira historia da RAPUNZEL e que o principe morre com Os Feitiços da bruxa e a rapunzel vai ate a bruxa e confronta e luta contra ela ai a bruxa fala a verdade para RAPUNZEL, ai ela bruxa temta escapar ai a RAPUNZEL pega fica atraz da bruxa e depois longe e ataca com seus poderes com cabelo, ai elas ficam lutando.

tat disse... [Responder comentário]

Olá. Tenho uma pesquisa bem grande sobre Rapunzel, começou em 2013. Se não houvesse Petrosinella, não haveria Rapunzel. Tenho o livro da Diane Stanley, que traduziu diretamente do original de Basile. Abraços.

Unknown disse... [Responder comentário]

Olá Tatiana, estou fazendo um trabalho sobre rapunzel, vc poderia me dizer onde encontro mais materiais a respeito desse conto. Desde já agradeço!

Erick disse... [Responder comentário]

Para quem tiver interesse, a Universidade de Santa Catarina lançou uma tradução do conto Persinette nessa antologia: https://mnemosineantologiasdotcom.files.wordpress.com/2019/08/antologia_contos_xvii.pdf

E para quem souber inglês, é possível ler as três (Petrosinella, Persinette e Rapunzel) nesse ebook: https://www.amazon.com.br/Persinette-French-Fairy-Folklore-English-ebook/dp/B00UDG5GN2

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